Nesta despedida, venho a público agradecer aos empregados, clientes, parceiros, entidades e ao controlador da CAIXA, que contribuíram para que meus 10 meses de gestão à frente do banco resgatassem a autoestima institucional de "ser CAIXA", condição fundamental para viabilizar a nossa missão singular de banco social, que é capaz de atender à população brasileira, especialmente os mais necessitados, e ao mesmo tempo, garantir rentabilidade ao negócio.
Faço aqui um breve balanço das nossas entregas que levaram a CAIXA a viver um de seus melhores momentos.
Os resultados desses 10 meses da minha gestão, que se encerra agora, recolocaram o banco na posição que o Presidente Lula me solicitou veementemente em janeiro: a CAIXA em sua posição de protagonista para o desenvolvimento do Brasil.
Entre os anos de 2016 e 2021, o banco perdeu participação de mercado no crédito livre, de 12,59% para 5,85%. Houve também um impacto relevante nas captações, especialmente entre 2020 e 2021, quando a participação na poupança reduziu de 37,6% para 35,4% e no CDB, de 4,2% para 2,7%.
A partir de 2016, a agenda privatista do governo Temer se deu na CAIXA por meio da privatização de operações via ampliação das participadas, que não necessitam de autorização do Congresso Nacional. Entre 2017 e 2021, o lucro da CAIXA foi muito influenciado, especialmente, pela venda de ativos, como ações da Petrobras, IRB e Banco Pan, além da abertura de capital da Caixa Seguridade.
No período que compreende os anos de 2019 a 2022, o obscurantismo aplacou a CAIXA. No ano passado, as denúncias de assédio moral e sexual se espalharam dentro do banco e viraram manchetes do noticiário, devido ao fato do ex-presidente da CAIXA ser o epicentro das denúncias. Esses episódios, além de deixarem graves cicatrizes coletivas e pessoais, afetaram os negócios e impactaram a boa governança do banco, período marcado por alta rotatividade nos cargos de direção.
As operações controversas realizadas geraram uma grande repercussão negativa para a imagem da instituição, como a concessão de crédito consignado do Auxílio Brasil, às vésperas da eleição, e o microfinanças, que geraram prejuízo bilionário ao FGM/FGTS e estimularam o endividamento das famílias vulneráveis. Logo no início da minha gestão, parei as duas operações lesivas às boas práticas da gestão e à concessão de crédito responsável.
Em poucos meses, atingimos o desafio de buscar resultados sem renunciar à missão da CAIXA como banco social. O lucro líquido de R$4,5 bilhões no 1º semestre representa um aumento de 3,2% em relação a 2022. É notável o crescimento de 33,5% do lucro líquido do 2º trimestre em relação ao 1º trimestre de 2023, após três árduos meses "de arrumação da casa" (de R$1,9 bi para R$2,6 bi), restabelecendo a ética e a integridade nas práticas de governança.
O resultado do 3° trimestre, a ser apresentado no dia 13/11, tende a ser promissor. Tenho certeza de que vai confirmar o acerto de nossas escolhas no âmbito do reequacionamento da estrutura de funding e de risco, que possibilitou, ao longo desses 10 meses, superar os problemas de liquidez do final do ano passado, equacionar a inadimplência e voltar a expandir substancialmente a oferta de crédito.
A CAIXA conseguiu alcançar resultados significativos este ano, fazendo o que os outros bancos não fazem. Numa conjuntura desfavorável de juros altos e maior inadimplência, a CAIXA conseguiu expandir o crédito para PF e PJ, com um crescimento anualizado de 4,5% até setembro/23. Em relação a 2022, houve, no primeiro semestre, um aumento de 34,9% das receitas da carteira de crédito em todas as modalidades.
Conseguimos a redução do spread bancário para 11,7%, comparado à média ponderada de 17,5% do mercado, mantendo a menor inadimplência, de 2,79% contra a média do mercado de 3,74%.
O maior destaque é o crédito imobiliário. Neste ano, foram mais de R$129 bilhões para novas moradias, com 2,2 milhões de empregos esperados. Em 2023, 675 mil famílias devem ser contempladas com moradia digna. A CAIXA acabou de atingir a marca histórica de R$700 bilhões de carteira de crédito imobiliário. A carteira da CAIXA é, proporcionalmente ao PIB, 1,5% maior do que a do ICBC Bank, da China, o maior banco imobiliário do mundo.
Em 2023, na área de infraestrutura, a CAIXA concedeu, até agora, R$18,4 bilhões de crédito aos entes públicos (OGU e FGTS), um valor 91% superior ao total contratado de todo o ano de 2022, beneficiando 448 localidades e 2,2 milhões de empregos potenciais. Foram realizados pagamentos (desbloqueios) de R$2,8 bilhões em obras para mais de 3 mil municípios e retomadas 2,1 mil obras paralisadas em 2022 de recursos OGU, injetando R$9,5 bilhões em investimentos em todo o país.
Dos R$1,4 trilhão previstos para investimentos no Novo PAC até 2026, a estimativa é que a CAIXA seja responsável por pelo menos 30% deste valor, o que evidencia o lugar singular do banco no governo para o desenvolvimento do país e a reconstrução do Estado.
Iniciamos a transformação do atendimento na Caixa com a imersão de todos os Dirigentes e Superintendentes Nacionais em nossas Agências, ouvindo os empregados e clientes e avaliando processos, infraestrutura e tecnologia, com foco na experiência do cliente e na jornada dos empregados.
O programa de transformação digital lançado há três meses é ousado e busca eliminar a defasagem tecnológica do banco. O grande esforço implementado possibilitou o efetivo envolvimento e mobilização das áreas meio e de negócios.
Demos um salto de qualidade na discussão da diversidade, tornando-nos uma das poucas grandes empresas do Brasil e do mundo a ter maioria de mulheres na alta administração. Retomamos relações com entidades sindicais, respeitando o processo de livre negociação e democracia.
Todo esse resultado é fruto de um esforço de trabalho coletivo. São 87 mil empregados diretos e outros milhares indiretos atuando todos os dias para garantir um atendimento digno aos clientes e à população brasileira. Empregados que voltaram a ter orgulho de trabalhar na CAIXA.
Por fim, o momento é de agradecer a toda a minha equipe, dirigentes, assessores, colegas de trabalho de todo o país, minha família, entidades e, em especial, ao presidente Lula, pela confiança depositada. Presidente, para mim, foi uma honra ter participado do seu governo.
Ser mulher em espaços de poder é algo sempre desafiador. Não foi fácil ver meu nome exposto durante meses à fio na imprensa. Espero deixar como legado a mensagem de que é preciso enfrentar a misoginia, de que é possível uma empregada de carreira ser presidente de um grande banco e entregar resultados, de que é possível ter um banco público eficiente e íntegro, de que é necessário e urgente pensar em outra forma de fazer política e ter relações humanizadas no trabalho.
Nos próximos dias, faremos a transição com o futuro presidente do banco, ao qual desde já registro meus desejos de boa sorte.
Quanto a mim, volto a ser bancária, com muito orgulho.
Seguimos juntos por um novo Brasil, uma nova Caixa.