Foram 14 problemas em apenas 3 meses, número superior a todo o ano de 2021. O livro O Futuro é Público mostra como diversos serviços no mundo todo estão sendo reestatizados
Privatizar é mesmo a solução? Melhora a vida do cidadão? Oferece, de fato, uma maior justiça social? A partir de hoje, o Comitê Nacional em Defesa das Empresas Públicas começa uma série de reportagens sobre a privatização que pretende responder essas e outras questões. Não só isso: derrubar mitos e verdades absolutas. A primeira matéria é sobre o metrô de São Paulo. Boa leitura.
A Bolsa de Valores de São Paulo (B3) estava em festa. No dia 20 de abril de 2021, o agora candidato à Presidência da República, João Doria, era só sorrisos. Acompanhado do recém-empossado governador de São Paulo, Rodrigo Garcia, Doria comemorava a privatização das linhas 8 e 9 da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM). O trecho foi entregue à iniciativa privada por R$ 980 milhões.
Foi a primeira licitação para concessão de linhas da CPTM à iniciativa privada. Até então, apenas novas linhas do Metrô foram concedidas ao setor privado. O consórcio Via Mobilidade assumiu as operações em janeiro deste ano. A promessa do governo Doria foi a mesma de sempre: melhorar os serviços.
Passado pouco mais de três meses, os serviços só pioraram. Nesse período, as duas linhas registraram 14 problemas. Número superior a todo o ano de 2021, quando a quantidade de ocorrências chegou a 12.
Na situação mais grave, um trabalhador haitiano morreu eletrocutado enquanto fazia a manutenção da linha 9.
Intervalos maiores
Além da quantidade elevada de ocorrências, os paulistanos que utilizam o serviço reclamam da limpeza das estações e vagões, do tratamento dos atendentes e do intervalo entre os trens. Antes, o tempo era de quatro minutos. Hoje, é de 10.
“Essa narrativa de que privatizar vai melhorar os serviços e reduzir o custo da máquina pública é uma falácia que não é de hoje. É um falso argumento para conquistar a opinião pública. Basta olhar para os fatos e verificar os números para constatar a precarização resultante da privatização”, afirma a coordenadora do Comitê Nacional em Defesa das Empresas Públicas e Conselheira eleita da Caixa, Rita Serrano.
“Além disso, a lógica por trás dessa operação é bem clara: o comprador só pensa em lucrar e, para isso, faz de tudo. Inclusive, piora os serviços e aumenta da tarifa. Ao final, é o cidadão quem paga a conta”, explica.
Precarização do trabalho
Com a privatização das linhas, os empregados que prestavam serviços para a então estatal, foram demitidos. Em seu lugar, novos trabalhadores assumiram com salários menores. A redução gira em torno de 10% a 40% dos vencimentos mensais.
Além disso, as condições de trabalho também foram precarizadas. O excesso de jornada passou a ser um fato corriqueiro; empregados são proibidos de utilizar os banheiros de dentro da empresa; os pertences dos trabalhadores ficam, agora, em corredores e não mais em um vestiário.
Grã-Bretanha reestatiza linhas
Enquanto aqui no Brasil a "moda" é privatizar tudo, a Grã-Bretanha, famosa por ceder quase tudo a iniciativa privada, decidiu reestatizar todas as suas linhas de metrô depois de 25 anos. Para isso, foi criada uma empresa pública para voltar a cuidar dos serviços. O governo do primeiro-ministro Boris Johnson tomou a decisão após a administração do sistema pela inciativa privada se mostrar problemática e ineficaz.
Essa é apenas um dos mais de 1,4 mil serviços pelo mundo que foram reestatizados entre 2000 e 2017. É o que mostra a pesquisa do Transnational Institute (TNI), centro de estudos em democracia e sustentabilidade sediado na Holanda.
O Futuro é Público
O estudo do TNI serviu de base para a elaboração do livro O Futuro é Público. A obra, produzida pelo Comitê Nacional em Defesa das Empresas Públicas e pela Fenae, reúne informações sobre mais de 1.400 casos bem-sucedidos de remunicipalização em mais de 2.400 cidades de 58 países ao redor do mundo.
O livro é gratuito e está disponível no endereço: undefined
Agora em abril, a obra será lançada em evento no Congresso Nacional.
"Esse trabalho nos dá dados e argumentos para que possamos fazer o debate contra as privatizações. Por isso, convido a todos a lerem o livro", finaliza Rita.