A representante dos empregados da Caixa no Conselho de Administração do banco, Rita Serrano, participou, no último final de semana, de encontro estadual de bancos públicos. O evento foi organizado pela Fetrafi RJ-ES e contou também com a presença da conselheira eleita pelos funcionários do Banco do Brasil, Débora Fonseca.
Ao abordar especificamente o caso da Caixa, Rita destacou que a prioridade dos empregados deve ser a luta contra o processo de privatização do banco, pois de nada adiantam negociações pontuais com a direção se não houver forte mobilização contra o processo de privatização.
“Para defender a Funcef e o Saúde Caixa é preciso garantir a existência da Caixa enquanto banco público. Se o banco for privatizado acaba tudo, não adianta manter apenas as negociações pontuais”, destacou. Ela lembrou ainda que mesmo os trabalhadores que já estão aposentados pelo fundo de pensão, ao contrário do que imaginam, não estão com seus direitos garantidos.
E enfatizou: “Nossa história de organização não é de derrotas, mas de vitórias. Se não fosse a nossa luta não teríamos resistido ao projeto privatista dos governos Collor e FHC. Nos últimos anos conseguimos, durante três anos consecutivos, impedir que a Caixa se tornasse uma empresa S/A”, relembrou a conselheira. A conselheira reforçou, ainda, que a população tem apego a marcas de empresas públicas e estatais importantes, como a Caixa, o Banco do Brasil e a Petrobras.
Durante a abertura do encontro, no sábado, 8, Rita e Débora Fonseca também ressaltaram a urgência em barrar a privatização dos bancos públicos. Ambas apontaram que, para isto, é necessária não só a mobilização dos trabalhadores destas instituições como a ampliação do debate com a sociedade sobre as graves consequências que este projeto do governo Bolsonaro trará para a população e para o País.
Para Rita, é possível impedir a execução da entrega de todo o patrimônio ao setor privado nacional e estrangeiro, mas a resistência tem que começar imediatamente. Ela avaliou que o projeto é o mesmo para todo o setor público, tanto para a Previdência Social quanto para o Sistema Único de Saúde (SUS) e a Assistência Social, através da capitalização e outros tipos de privatizações, assim como os cortes na Educação e venda de todas as estatais, incluindo Caixa e BB.
Já a representante do BB acrescentou que “é preciso, ainda, debater e obter o apoio de prefeitos e parlamentares dos estados e municípios, alertando para os efeitos nocivos deste desmonte”. As duas conselheiras avaliam que há uma disposição de grande parte da população em lutar contra o desmonte do setor público que Bolsonaro e o ministro Paulo Guedes querem implementar.
Apesar do cenário sombrio, tanto para Rita quanto para Débora é possível barrar esse projeto. Débora afirmou que é fundamental a população saber como será prejudicada caso as privatizações ocorram, já que o setor privado está interessado apenas em lucrar cada vez mais e não em investir para reduzir as desigualdades sociais.
Participantes – Ricardo Maggi, diretor da Fetraf RJ/ES e membro da Comissão de Empresa dos Empregados (CEE/Caixa) criticou a política mais conservadora de investimentos do banco em relação a Funcef, com investimentos em títulos públicos, menos rentáveis do que o mercado de ações como uma das causas da falta de reservas para enfrentar o contencioso ( valor total das ações trabalhistas que a Caixa perde na Justiça mas que a Funcef acaba pagando). Para o movimento sindical o problema não se trata de déficit do fundo de pensão, mas de consequências de operações propositalmente equivocadas da direção da empresa.
Já Fabiana Uehara, coordenadora do GT Saúde da Caixa e secretaria de Cultura da Contraf, lembrou que é preciso incluir os novos empregados com os mesmos direitos dos antigos para garantir a sustentabilidade do Saúde Caixa e cobrar da direção do banco os balanços que comprovem a afirmação da empresa em relação ao déficit no plano de saúde dos empregados.
“Se a Caixa for privatizada, não restará nem emprego quando mais melhores condições de trabalho. É só ver o que aconteceu com as instituições privatizadas, como o Banerj aqui no Rio. Somente a nossa unidade e mobilização impedirá a entrega dos bancos públicos às instituições privadas do sistema financeiro, como conseguimos no passado”, afirmou o vice-presidente do Sindicato dos Bancários do Município do Rio de Janeiro Paulo Matileti.
Para o presidente da CUT do Rio de Janeiro, o bancário da CEF, Marcelo Rodrigues, também presente à mesa de abertura do encontro, essa disposição isso ficou comprovada nas mobilizações nacionais dos dias 15 e 30 de maio. “Mas é preciso ampliar esta resistência, principalmente construindo uma forte greve geral no dia 14 de junho contra a reforma da Previdência, os cortes na educação e as privatizações”, defendeu.
“Esse encontro estadual foi muito produtivo, porque pudemos discutir perspectivas para os bancos públicos com boa representatividade e diálogo com o movimento sindical”, avaliou Rita – veja, abaixo, outros itens abordados pela conselheira da Caixa durante o encontro estadual.
• Mais pautas da Caixa
Durante o encontro estadual a conselheira Rita Serrano abordou ainda os seguintes temas:
Ambiente de trabalho – “(Hoje) O grau de pressão e de decisões autoritárias é violento na Caixa. Não dá para esperar nada de bom na atual conjuntura”, avaliou, citando, por exemplo, transferências de trabalhadores feita de forma unilateral pela empresa para pressionar os bancários a aderir ao PDV (Plano de Demissão Voluntária). Ela lembrou ainda que o embate tem sido difícil, já que no Conselho de Administração são sete representantes da direção da empresa e apenas uma representante dos trabalhadores.
Descapitalização da empresa – Rita criticou o fatiamento da Caixa como parte do processo de privatização e que dois ativos já estão sendo vendidos ao mercado, sendo que serão ao todo pelo menos quatro ainda este ano. Alertou sobre a necessidade de a Comissão de Empresa dos Empregados questionar sobre o grande número de empregados que estão sendo demitidos por justa causa. “Se este processo continuar não vai sobrar nada do banco enquanto instituição pública. Se alguém tinha alguma ilusão em relação à reestruturação, agora não tem mais. Está muito claro que o esvaziamento e a descapitalização da empresa têm por objetivo a privatização da Caixa”, destacou.
Formas de privatização – “Tem várias formas de privatizar. Através de leilões, ou da abertura de capital, como aconteceu no sistema financeiro, com o Banco do Brasil, cujo capital foi aberto em 1969 em plena ditadura militar. Não houve resistência em função da truculência do sistema. Este governo de agora decidiu fatiar e vender as partes mais lucrativas destas empresas. Na Caixa querem privatizar na totalidade as loterias, que destinam aos investimentos sociais 40% do seu lucro, o setor de seguros e o FGTS. O que vai sobrar? A rede de agências e os empregados”, argumentou a conselheira. Ela frisou que, no BB, que já é sociedade anônima, vai acontecer o mesmo com cartões e seguradora, já tendo sido reduzido o financiamento agrícola. Na Petrobras, o governo quer entregar a petrolíferas estrangeiras o que resta do pré-sal e subsidiárias, como a BR Distribuidora. “E tudo com o apoio do Supremo Tribunal Federal (STF), que decidiu que a venda de subsidiárias de empresas públicas pode ser feita por decisão exclusiva do governo sem a necessidade de autorização do Congresso Nacional”.
Demissões – “O cenário é igual para todas as estatais.
As demissões poderão, em algum momento, ser adotadas nos bancos públicos, já que estão sendo em outros locais.
Discurso – Rita lembrou que a privatização é feita para enriquecer ainda mais os ricos. “Antes eles usavam o discurso da ineficiência, caso a estatal não fosse lucrativa. Agora, como todas são altamente lucrativas, entre elas o Banco do Brasil, BNDES, Caixa, Eletrobrás e Petrobras, o Paulo Guedes passou a dizer que se é para ter lucro como uma empresa privada, melhor então, privatizar de uma vez”, afirmou. “Eles ficam escondendo a importância do setor público para a sociedade. Nos Estados Unidos, o país mais liberal do mundo, o Estado investe forte na economia. Injetou dinheiro na GM para salvar a empresa da crise e praticamente se tornou o dono da montadora; também investiu pesadamente nos bancos na crise de 2008. Na Europa, as 500 maiores empresas são estatais. Onde foi privatizado, saneamento, água e lixo estão sendo reestatizados. E, aqui no Brasil, Bolsonaro e Guedes querem acabar com o setor público, o que causará danos irreparáveis para o desenvolvimento econômico e social do Brasil, prejudicando os assalariados, e só vai beneficiar os grandes grupos nacionais e estrangeiros”, afirmou.
Rejeição – A conselheira afirmou que, segundo pesquisa do Instituto Datafolha, 70% da população são contra a privatização de estatais. Pesquisas também mostram que bancos públicos como a Caixa e o BB são os mais lembrados pela população, mesmo com o desmonte e redução do número de funcionários, o que mostra a relação histórica e a importância destas instituições para o povo brasileiro