A Caixa registrou lucro líquido de R$ 6,65 bilhões no primeiro semestre deste ano. O resultado representa um crescimento de 63,3% em doze meses e 8,6% no trimestre. Mas os fatores apontados pelo banco como responsáveis pelo desempenho não podem ser amplamente comemorados, se considerado que a instituição tem um papel social a cumprir. E nem mesmo por seus empregados, cujos direitos e empregos seguem sob ameaça no atual governo.
Segundo o Relatório de Administração do banco, dentre os três fatores que influenciaram mais diretamente o resultado está a diminuição das despesas administrativas, especialmente nas despesas com pessoal, em 7,5%. Em 12 meses, a Caixa fechou 3.777 postos de trabalho através de Plano de Apoio à Aposentadoria (PAA) e do Programa de Desligamento Voluntário Extraordinário (PDVE). E encerrou o primeiro semestre com 86.424 – nesse número está embutido quase 1000 empregados afastados por LIP – Licença para Interesse Particular; portanto na ativa, hoje, em torno de 85 mil, quando em 2014 eram 101 mil.
Há que se destacar ainda o fechamento de 66 agências no período. Ou seja: o banco conta hoje com menos funcionários e agências, com forte impacto no atendimento, o que evidencia as consequências da precarização nos bancos públicos promovida pelo atual governo.
Outro fator apontado e que atinge diretamente a sociedade é que a Caixa aumentou em 6,5% suas receitas com prestação de serviços e renda das tarifas bancárias que, ao final do 1º semestre de 2018, totalizaram R$ 13 bilhões. O que se observa, de fato, é a busca por uma rentabilidade cada vez maior, assim como ocorre nos bancos privados, em detrimento do papel social do banco, que assim abandona a premissa antes adotada de manter-se como “o banco das menores taxas” e maior investidor no desenvolvimento do País.
O terceiro fator é a expressiva redução de R$ 3,2 bilhões (ou 30,9%) das Despesas com Provisão para Créditos de Liquidação Duvidosa, na comparação com o primeiro semestre de 2017. Essa redução refletiu o recuo de R$ 20,6 bilhões na carteira de crédito ampla nos 12 últimos meses, mas principalmente a mudança no perfil dessa carteira, com a forte migração da oferta para linhas de crédito de baixo risco. A inadimplência total, acima de 90 dias, atingiu 2,50% em junho de 2018, recuo de 0,02 p.p em 12 meses, e ainda é significativamente abaixo da média do mercado, de 3,06%.
Apesar de tudo, a Caixa segue sendo o principal agente operador dos programas sociais do governo federal: no primeiro semestre de 2018, pagou 80,9 milhões de benefícios sociais, correspondendo a R$ 14,5 bilhões. Somente através programa Bolsa Família foram pagos 78,4 milhões de benefícios, totalizando R$ 14,0 bilhões no acumulado até junho de 2018.
Já nos programas voltados ao trabalhador, foi responsável por realizar 88,5 milhões de pagamentos de benefícios, que totalizaram R$ 133,0 bilhões no período. Entre eles, o Seguro-Desemprego, Abono Salarial e PIS corresponderam a R$ 31,6 bilhões. As aposentadorias e pensões aos beneficiários do INSS totalizaram 37,7 milhões de pagamentos, somando R$ 46,7 bilhões no primeiro semestre de 2018. E a arrecadação do FGTS atingiu R$ 60,1 bilhões, com os saques totalizando R$ 54,7 bilhões.
Os dados divulgados pela Caixa nesta segunda, 20, foram analisados pelo Dieese/Fenae.
“Nosso papel continua a ser o de defender a Caixa pública focada no desenvolvimento e que ofereça boas condições de trabalho. Isso só acontecerá, porém, se o modelo de governo mudar, sendo de fato comprometido com o Brasil e seu povo”, destaca a representante dos empregados no Conselho de Administração Rita Serrano, que também coordena o Comitê Nacional em Defesa das Empresas Públicas.
Ela lembra, ainda, que são os empregados do banco os principais responsáveis pelo bom resultado do banco, ainda que trabalhem sob pressão e com as muitas dificuldades causadas pelas tentativas de precarização da Caixa. “Há um grande esforço por parte dos empregados para alcançar as metas, e isso precisa ser valorizado pela empresa”, aponta, acrescentando que a categoria bancária segue em campanha salarial pela manutenção e ampliação de direitos.