Rita Serrano apresenta livro O Futuro é Público no Congresso da Advocef

Advocefcard0905A Conselheira eleita pelos empregados para o Conselho de Administração (CA) da Caixa e coordenadora do Comitê Nacional em Defesa das Empresas Públicas, Rita Serrano, participou do XXVI Congresso da Advocef – Associação dos advogados da Caixa, realizado em Campinas (SP), no final de abril. Rita aproveitou a oportunidade para apresentar o livro O Futuro é Público.

A versão impressa da obra, lançada durante a edição 2022 do Inspira Fenae, apresenta uma pesquisa realizada pelo Transnational Institute (TNI) no qual revela que mais 1,4 mil serviços foram reestatizados no mundo todo entre 2000 e 2017. Na maioria dos casos, a decisão de retornar esses serviços se deu após a administração pela inciativa privada se mostrar problemática e ineficaz.

“Essa obra é uma ferramenta importantíssima para que possamos aprofundar o debate e combater a narrativa de que a solução para os problemas é a privatização dos serviços públicos”, afirmou Rita.

A versão em português conta com artigo de Rita Serrano, intitulado: Estado pós-pandemia e Empresas Públicas no Brasil.

 

O livro é gratuito e a versão digital está disponível no endereço: http://www.comiteempresaspublicas.com.br/portal/comite-empresas-publicas/noticias/versao-em-portugues-do-livro-o-futuro-e-publico-sera-distribuida-virtualmente.htm

Em breve, a obra será apresentada aos parlamentares em evento no Congresso Nacional.

Entrevista

Rita Serrano foi a entrevistada da 32ª edição da revista Advocacia Caixa. A publicação é da Advocef. Rita falou sobre condições de trabalho, defesa da Caixa 100% pública e pandemia. Confira a entrevista completa no site da Advocef ou leia a integra abaixo.

A senhora é empregada da CAIXA desde 1989, já ocupou diversas funções no banco, mas algo que marca sua trajetória pessoal é a atuação no movimento sindical e social. Qual é a motivação para desenvolver esse trabalho?

Em primeiro lugar quero agradecer o convite para essa entrevista, parabenizar a Advocef, também Anna Claudia de Vasconcellos, ex-presidenta da entidade, que deixou a gestão com excelente avaliação e, congratular Marcelo Quevedo, presidente eleito pela posse.

É uma pergunta profunda. Venho de uma família muito humilde e desde a infância enxergava as injustiças sociais. Comecei minha militância nos grupos de jovens da igreja católica. Para entender melhor a realidade, resolvi fazer faculdade de História. Naquele momento, tive certeza de que minha vida seria dedicada a fazer a diferença na construção de um mundo fraterno e digno para todos. Essa é minha motivação, o sentido para a jornada. Entrei na Caixa em 1989, fiz carreira e, depois de alguns anos, a vida me encaminhou para o movimento sindical, onde fui presidenta do Sindicato dos Bancários do ABC. Fiquei anos atuando em movimentos sociais, focando meu trabalho na periferia, com jovens carentes. Trabalhar na Caixa me ajudou a ter a dimensão do poder que uma política pública voltada para a inclusão pode ter para um país em construção, por essa razão nos últimos anos dedico minha energia em prol do patrimônio público brasileiro, tão ameaçado nesse momento e, obviamente, na defesa da Caixa, que, por ser um banco com poder real para melhorar a vida da população brasileira, precisa se manter público.

A senhora foi eleita pela primeira vez ao Conselho de Administração da CAIXA em 2017, no decorrer dos anos sempre teve alto índice de aprovação entre os empregados, prova disso é a reeleição, neste ano, com 90,78% dos votos válidos. Como avalia esse resultado?

São vários fatores. Em primeiro lugar, é fruto do trabalho próximo que tenho junto aos colegas e entidades, dialogando e prestando contas das minhas posições, meus votos no conselho e acolhendo as demandas. O apoio das entidades, incluindo a Advocef, a união de propósito de todos, também foi preponderante na votação. Agora, sem dúvida alguma, ao votar em mim, os empregados deram um grito de basta, de resistência às iniciativas de privatização da Caixa, contra a piora das condições de trabalho e ao aumento das cobranças e pressões. 

Na sua opinião, qual a importância de um representante eleito pelos empregados no Conselho de Administração das empresas públicas?

Muito embora a Constituição Brasileira de 1967 já tratasse dessa possibilidade, e alguns países, como a Alemanha, tenham essa garantia para empresas públicas e privadas desde o final da segunda guerra mundial, no Brasil, a lei que garantiu a eleição de um representante dos trabalhadores é recente, de 2010, só vale para empresas públicas.

Em recente artigo que publiquei em periódico da Universidade de São Caetano do Sul (USCS) sobre o histórico da presença dos trabalhadores eleitos pelo mundo, a conclusão que cheguei é de essa participação cumpre a função de democratizar a gestão empresarial, melhora a fiscalização dos usos dos recursos e leva o olhar dos trabalhadores para a alta administração. Tal discussão incorpora plenamente o conceito “Environmental, Social and Governance'' (ESG), surgido em 2005 em uma conferência liderada por Kofi Annan, então secretário-geral das Organização das Nações Unidas (ONU). Esse conceito, resumidamente, expressa que a operação das empresas deve ser socialmente responsável e sustentável, e que as empresas devem ser corretamente gerenciadas, sempre atentas aos impactos gerados ao meio-ambiente, à sociedade, bem como aos parceiros e colaboradores.

Sustentabilidade e perenidade das empresas certamente serão defendidas fortemente por seus empregados presentes em seus conselhos de administração. No caso das estatais, nesse momento, o papel principal dos conselheiros vem sendo a defesa das empresas públicas contra o processo de privatização.

Como é atuar no Conselho de Administração da CAIXA sendo a única representante eleita entre os membros?

Ser minoria não é fácil, sou a única empregada da Caixa, na maioria das vezes, a única com voz destoante da maioria, e durante muito tempo, a única mulher. Precisa ser resiliente, ter foco, qualificar a discussão.  A pressão é grande, mas nunca permiti que me intimidassem, sei do meu papel e da responsabilidade que carrego ao representar os trabalhadores e entidades

A pandemia mostrou a importância da CAIXA e do trabalho desempenhado por seus empregados, que atenderam milhões de brasileiros atingidos pela crise econômica e social. Como tem sido sua atuação em prol de melhores condições de trabalho para a categoria? 

A crise sanitária trouxe para os bancários e prestadores de serviço da Caixa um sentido maior da palavra superação, já que a covid-19 acarretou mortes, tristeza e a necessidade de cumprimento do papel social da empresa, exigindo de seus trabalhadores rotinas extensas (e com grande risco de contaminação) para atender dignamente a milhões de brasileiros desamparados pela crise econômica e social.

Junto com as entidades, defendi a necessidade do home office, protocolos de segurança nas agências, vacina para todos, contratações, investimentos em tecnologia e humanização das relações de trabalho, sem a cobrança exacerbada por metas.

Os empregados da Caixa nunca se furtaram ao compromisso com o povo brasileiro, pois carregam nas veias o DNA da missão pública no sentido mais nobre da palavra, mas merecem segurança no trabalho, respeito e reconhecimento.

Qual a importância de atuar em conjunto das entidades associativas e sindicatos nesse sentido?

Entidades de representação e sindicatos são organismos da democracia e responsáveis por ações em prol da melhoria das condições de vida e trabalho dos empregados e pela manutenção e fortalecimento da Caixa Pública. Mesmo com a atuação tendo várias outras exigências e nuances legais, esse também é o papel do conselheiro eleito. 

Portanto a união de forças do meu mandato com as entidades é um marco histórico, que só fortalece nossas pautas, e prova que só com união, solidariedade, resistência e garra, conseguiremos continuar vencendo os desafios colocados. 

Dois pontos principais se destacam em sua atuação no CA: a defesa dos interesses dos empregados e as ações pela manutenção da CAIXA 100% pública. Quais foram os principais desafios no desempenho desse trabalho?

Atuar conta as iniciativas de privatização das operações, contra a Caixa S/A e retiradas de direitos dos empregados sem dúvida alguma, vem sendo o principal desafio.

Em parceria com entidades e parlamentares, estive na linha de frente do movimento em defesa da Caixa, propondo ações de resistência a esse processo, o que garantiu que o governo não tenha, até momento, conseguido realizar tudo o que havia planejado. Na minha avaliação, foram muitas batalhas, algumas derrotas, mas as vitórias se destacaram: derrubada da CGPAR 23, da MP 995, mudança no texto do PLS 555, manutenção do Saúde Caixa e, mesmo com a venda de parte dos ativos, a Caixa se mantém pública. O mandato sofreu muitas pressões em decorrência do meu posicionamento crítico, a resposta veio do apoio da categoria, com os mais de 90% dos votos na reeleição. 

Quais são suas perspectivas com relação ao novo mandato?

As perspectivas são de continuar focada em construir propostas e articular ações para a garantia da sustentabilidade, integridade e governança da Caixa. Ampliar a sinergia com as entidades para manter os direitos dos empregados, afinal, neste ano, teremos renovação do acordo coletivo de trabalho, além de atuar para humanizar as relações de trabalho, valorização dos profissionais e todo corpo funcional.

A novidade é que pretendo, até o final do ano, lançar um livro, onde vou contar um pouco da minha trajetória e experiência no conselho.

Agradeço novamente o espaço. Quero encerrar a entrevista com uma frase de Santo Agostinho que uso como inspiração.

“A esperança tem duas filhas lindas, a indignação e a coragem; a indignação nos ensina a não aceitar as coisas como estão; a coragem, a mudá-las.”