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A conselheira eleita pelos empregados, com mais de 90% dos votos, para o Conselho de Administração (CA) da Caixa, Rita Serrano, concedeu entrevista para o PartiCIPA, na edição especial do Dia Internacional da Mulher.
CIPA: Rita, boa tarde! Seja muito bem-vinda à edição especial da Revista PartiCIPA. Sob o enfoque dos desafios da mulher em nossa sociedade, conte-nos um pouco sobre você, sobre sua formação e trajetória profissional e como galgou esse cargo tão representativo que é ser Conselheira eleita pelos empregados para o Conselho de Administração da CAIXA?
RITA SERRANO: Em primeiro lugar, quero agradecer o convite da CIPA Matriz para essa entrevista. A CIPA foi a primeira experiência no Brasil (1944) de atuação dos trabalhadores junto a gestão das empresas. Fico muito feliz quando temos colegas trabalhando para a melhoria das condições de trabalho.
Sou empregada da Caixa desde 1989. Nesses 32 anos de banco, ocupei várias funções. Tenho mestrado em Administração, graduação em História e Estudos Sociais, e especialização em Governança Corporativa para conselheiros.
Minha trajetória de vida sempre foi focada na atuação do movimento sindical e social. Fui a primeira mulher a presidir o Sindicato dos Bancários do ABC, entre 2006 e 2012. Atualmente, coordeno o Comitê Nacional em Defesa das Empresas Públicas, que lançou a campanha “Se é Público, é para todos” no Brasil e em encontros internacionais de bancários. Sou conselheira fiscal da Fenae. Autora de livros e artigos, entre eles: “Caixa, banco dos brasileiros” de 2018 e coautora de “A era Digital e o Trabalho Bancário” de 2020. Pretendo lançar mais um livro ainda neste ano.
Minha eleição para o Conselho de Administração (CA) foi consequência da atuação que sempre tive nas batalhas em defesa da Caixa Pública, por condições de trabalho dignas para os empregados e na relação de diálogo com colegas e entidades.
Fui eleita suplente na primeira eleição para o CA em 2013, efetiva em 2017. Em 2019, concorri com 203 candidatos, ganhando no primeiro turno com 82% dos votos e agora na reeleição, concorri com
30 candidatos e o resultado foi de quase 91% dos votos válidos no primeiro turno.
CIPA: No seu ponto de vista, quais as principais barreiras que as mulheres enfrentam no ambiente corporativo para galgarem os chamados “altos escalões” e como enfrentou esses desafios?
RITA SERRANO: Para termos ideia das discrepâncias de gênero no mundo corporativo, no Brasil, somente 12% de mulheres ocupam cargos em conselhos de administração. Na Caixa, somos 2 mulheres de 8 conselheiros. Na carreira do banco, temos 28% de mulheres em cargos de chefia, 45% em função gerencial.
As barreiras são muitas. Mesmo as mulheres tendo maior grau de escolaridade, acabam preteridas na hora da seleção. Um dos motivos é a falta de uma política efetiva de equidade de gêneros, de equiparação salarial. Outro fator é a cultura machista que domina a sociedade e que continua deixando a mulher como principal responsável pelos afazeres domésticos. Segundo pesquisa do IPEA, elas trabalham 7,5 horas a mais que os homens em casa.
Eu enfrentei essas dificuldades e outras, já que minha família é de origem humilde. Desde muito nova, tive claro que nada seria fácil e, sendo mulher, o esforço seria dobrado. Então, me dediquei a estudar, aceitar desafios, me impor e persistir. A teimosia é essencial.
Mudar esse estado de coisas passa pela conscientização de que um mundo justo e de paz, só será possível se houver respeito as diferenças. Igualdade traz felicidade.
CIPA: Sabemos que por muito tempo você foi a única mulher no Conselho de Administração da CAIXA. Como você descreveria sua participação nesse período? Acha que em algum momento o fato de ser mulher, lhe impediu ou prejudicou nas suas ponderações/opiniões/votos?
RITA SERRANO: Ser minoria não é fácil. Sou a única empregada da Caixa, na maioria das vezes, a única com voz destoante e, durante muito tempo, a única mulher no CA. A pressão é grande. Precisa ser resiliente, ter foco, qualificar a discussão. Nunca permiti que isso me intimidasse. Sei do meu papel e da responsabilidade que carrego ao representar os trabalhadores e entidades.
CIPA: Aproveitando, parabenizamos pela reeleição com mais de 90% dos votos e, questionamos: a que você atribui esse alto percentual?
RITA SERRANO: São vários fatores. Em primeiro lugar, é fruto do trabalho próximo que tenho junto aos colegas e entidades, dialogando e prestando contas das minhas posições, meus votos no conselho e acolhendo as demandas. O apoio das entidades, a união de propósito de todos, também foi preponderante na votação. Agora, sem dúvida alguma, ao votar em mim, os empregados deram um grito de basta, de resistência às iniciativas de privatização da Caixa, contra a piora das condições de trabalho e ao aumento das cobranças e pressões.
CIPA: Qual conselho você daria às mulheres que buscam ascensão profissional e se sentem tolhidas exatamente pelo fato de serem mulheres?
RITA SERRANO: Eu diria para não desistir, não baixar a guarda. A cultura da “meritocracia”, impõe o conceito de que ascensão ou não na carreira tem caráter individual, você pode ser um fracassado ou vitorioso, mas isso não é verdade. Como os números mostram, não falta mérito as mulheres. Falta respeito e igualdade de oportunidade.
A entrevista foi publicada pela Revista PartiCIPA, em 08/03. A publicação é promovida pela CIPA Brasília. Clique aqui: PartiCIPA - especial Dia da Mulher e confira
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