Banco público centenário é lucrativo, mas, acima de tudo, essencial para o desenvolvimento do País 

Rita Serrano

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A Caixa é um banco público centenário, presente em todo o Brasil. Seus números são sempre impactantes, porque atende a todo o povo brasileiro, especialmente aos trabalhadores. Basta observar seu papel determinante neste momento de pandemia, com o pagamento do auxílio emergencial, para ter um rápido vislumbre da dimensão da importância da Caixa no desenvolvimento do País.
Tamanha capilaridade e resultados, claro, muitas vezes é usada como cartas no jogo político, como aconteceu recentemente na divulgação dos lucros de 2020, com declarações controversas do presidente da República e da direção do banco. No entanto, é preciso destacar que a Caixa sempre foi uma empresa de alto desempenho (em números e atuação), e questionar a que se deve tal crescimento.
Antes de abordar os balanços da Caixa dos últimos anos, porém, vale mencionar que a instituição de fato deu prejuízo de mais de R$ 4,6 bilhões em 2001, no governo FHC. À época nem mesmo a ajuda do governo federal, de R$ 9,3 bilhões, foi capaz de melhorar o resultado.
Mas o banco se recuperou, e em 2002 o lucro foi de pouco mais de R$ 1 bilhão. Estudo recente do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) com dados a partir de 2003 atesta que a instituição vem registrando lucro em todos os anos seguintes desde então.
Em valores atualizados a Caixa contabilizou lucro líquido acumulado de R$ 41,3 bilhões durante o governo Lula (2003 a 2010), de R$ 50 bilhões no governo Dilma (2011 a 2016) e de R$ 25,4 bilhões no governo Temer (2017 e 2018).
Em 2017 o resultado de mais de 14 bi foi impactado pelo teto imposto pelo banco ao plano de saúde dos empregados, que liberou provisionamento do benefício futuro em torno de 5 bi.
Já em 2019 e 2020 o lucro acumulado foi de R$ 35,1 bilhões. Mas incluiu valores decorrentes da venda de ativos. No ano de 2019 o resultado foi fortemente influenciado pela venda de Notas do Tesouro Nacional e principalmente a venda de ações da Petrobras. Do lucro daquele ano cerca de R$ 15 bilhões resultaram de vendas destes ativos: ações da Petrobras, do IRB, do Banco Pan etc. No seguinte, R$ 5,9 bilhões são de recursos que vieram da Caixa Seguridade.
A Caixa, não se pode esquecer, é muito mais que um banco, porque gerencia toda a política de habitação popular, seguro-desemprego, FGTS, Bolsa Família, entre muitos outros programas voltados ao desenvolvimento do Brasil e seu povo. Ela investe onde os privados passam longe, justamente por não mirar em lucros imediatos ou estrondosos.
E por trás dos números temos os empregados da Caixa, que se desdobram para dar conta de atender a milhões de brasileiros, como ocorre agora, e ao mesmo tempo cumprir as metas impostas pela direção. Constituem um patrimônio humano essencial para o gerenciamento eficiente de políticas públicas e comerciais.
Por essas razões, não podemos permitir que a Caixa seja dividida por partes e privatizada como deseja o governo federal, pois sua sustentabilidade no médio prazo ficaria ameaçada e o Estado perderia sua autonomia e capacidade de gerar investimentos e melhoria na qualidade de vida da população brasileira.

Rita Serrano é mestra em Administração, representante dos empregados no Conselho de Administração da Caixa Econômica Federal, conselheira fiscal da Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa (Fenae) e coordenadora do Comitê Nacional em Defesa das Empresas Públicas. É autora do livro Caixa, banco dos brasileiros.

Assista a vídeo com a representante dos empregados da Caixa sobre o tema.